O Quelhas
O Arturito é descendente de “Vareiros”, por parte do meu Avô Artur, que já vos apresentei, e “Badanas”, por parte na minha Avó Aida, que nos deixou no ano em que eu nasci.
A alcunha de “Vareiros”, segundo reza
a história oral da minha família, advém de um ascendente meu, que não posso
precisar se era o meu bisavô ou o meu trisavô. Este meu antepassado terá sido
uma espécie de almocreve, que vendia peixe de terreola em terreola.
Já a alcunha de “Badanas” é uma
incógnita para mim. Agradecerei empenhadamente a algum leitor desta crónica que
me consiga esclarecer.…
A prole dos Badanas em S. Mamede Infesta ainda era extensa. A primeira “Badana” que me vem à cabeça é a minha bisavó, que era tratada por “Avó Bisa”, a Ana Badana. Retenho, na minha memória, as idas a casa da Tia Glória e da Ceusita para a ver.
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(Tio Quim, Tia Fernanda, Tia Glória, Tia Alice, Avó Aida Avó Bisa, Avô Quelhas) |
Depois vieram as outras “Badanas”.
A já referida Avó Aida, a Tia Alice, irmã da minha Avó Aida, que se tornou a
segunda mulher do meu Avô, a Tia Glória, de quem também já vos falei e a Tia
Fernanda.
As “Badanas”, e suponho que a maioria
das mulheres daquela época, ou eram costureiras ou eram donas de casa!
Mas a Ana Badana também teve um
filho varão, o Tio Quim!
Eu fui muito injusto, quando
falei do corrupio que existia em minha casa, por não ter referido o Tio Quim.
A vida fez com que o Tio Quim
fosse um bom serralheiro-mecânico e tivesse ido trabalhar para Bouças, para a
fábrica das redes. E foi aí que se apaixonou pela Tia Maria. A Tia Maria era
uma mulher muito delicada, pequenina, parecia uma flor.
E assim S. Mamede viu partir um
cidadão de primeira água, em benefício de Bouças de Baixo!
(Em boa verdade, trocamos um
mamedense por um cidadão de Bouças, embora chegado uns anos mais tarde.
Refiro-me, claro está, ao Miguel Nora, que esta semana nos pregou uma partida,
passando a estar do lado de lá da curva. Como diz o poeta, “A morte é a curva
da estrada, Morrer é só não ser visto.”)
Enquanto a saúde o permitiu, o
Tio Quim e a Tia Maria vinham todas as quintas-feiras a S. Mamede, depois de
almoço, visitar-nos. Vinham também tratar da saúde do meu Tio. Já não me
recordo bem, mas recordo o suficiente para saber que o tratamento era coisa
simples. Era uma boa dose de conversa e um cálice de whisky, que faziam muito
bem à circulação!
O meu Tio Quim morava ali, junto
ao Parque Basílio Teles. Era uma casa térrea, simpática, ladeada por uma
passagem até às traseiras. Aliás, todo aquele correr de casas em frente ao
Parque Basílio Teles era assim.
Aquela zona de Matosinhos era
muito bonita.
Eu lembro, com nostalgia, aquelas
vivendas da zona de Carcavelos, onde apanhávamos o autocarro, e que foram engolidas
por uma voragem capitalista desenfreada. As vivendas foram substituídas por
monstros de betão, que até o sol nos roubam.
Bem, e ido de S. Mamede Infesta,
o meu Tio Quim tornou-se um cidadão exemplar de Matosinhos. Tornou-se o Quelhas!
Este Quelhas deixou uma boa
geração de Quelhas. De facto, quer o Vítor quer o Zé Manel são figuras de
Matosinhos. Descobri, anos mais tarde, quando tive uma passagem efémera
enquanto atleta de andebol do Leixões, da sua importância no maior clube da
cidade de Matosinhos.
O Arturito gostava muito dos dois, mas tinha uma predileção especial pelo Zé Manel, mais próximo da sua idade.
O Arturito sempre apreciou miúdos
vivaços, espertos, a quem podia ensinar algumas asneiras e muitas malandrices. O
Arturito tinha que os pôr finos! Cabiam neste registo o Zé Manel e também o Zé
António, filho da Assunção (aquelas broinhas doces, pela Páscoa, que, julgávamos
nós, ajudávamos a fazer…).
Para o Zé Manel, o meu Pai era o
“Turito”.
Tenho a memória do meu Pai contar
muitas peripécias com o Zé Manel e o quanto o Zé Manel queria vir para a casa
do “Turito”.
O Zé Manel sempre adorou o
Turito. Até se sentar ao lado dos leixonenses ilustres, lá no alto, todos os
anos nos visitava, no Natal.
E era sempre uma festa!
Será que lá onde estão, o “Turito”
continua a andar com o Zé Manel às costas, no meio dos porcos?
(É engraçado, eu estou a terminar
esta crónica e a pensar se sou mais Vareiro ou Badana. Eu acho que nem uma
coisa, nem outra.)
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