O Quelhas

O Arturito é descendente de “Vareiros”, por parte do meu Avô Artur, que já vos apresentei, e “Badanas”, por parte na minha Avó Aida, que nos deixou no ano em que eu nasci.

A alcunha de “Vareiros”, segundo reza a história oral da minha família, advém de um ascendente meu, que não posso precisar se era o meu bisavô ou o meu trisavô. Este meu antepassado terá sido uma espécie de almocreve, que vendia peixe de terreola em terreola.

Já a alcunha de “Badanas” é uma incógnita para mim. Agradecerei empenhadamente a algum leitor desta crónica que me consiga esclarecer.…

A prole dos Badanas em S. Mamede Infesta ainda era extensa. A primeira “Badana” que me vem à cabeça é a minha bisavó, que era tratada por “Avó Bisa”, a Ana Badana. Retenho, na minha memória, as idas a casa da Tia Glória e da Ceusita para a ver. 


(Tio Quim, Tia Fernanda, Tia Glória, Tia Alice, Avó Aida
Avó Bisa, Avô Quelhas)

A minha Tia Isabel, que durante muitos anos foi uma espécie de governanta da minha casa, também era “Vareira”.

A propósito da Tia Isabel, nunca me esqueço, que, estando eu a dormir, entreabria a porta do meu quarto, fazia com que uma frecha de luz se abatesse sobre a minha cabeça, e perguntava, “Oh, nino (diminutivo carinhoso de menino), a que horas queres que te acorde?”. Pronto, lá estava eu acordado! Resiliente, a minha Tia durou quase até aos cem anos!

Depois vieram as outras “Badanas”. A já referida Avó Aida, a Tia Alice, irmã da minha Avó Aida, que se tornou a segunda mulher do meu Avô, a Tia Glória, de quem também já vos falei e a Tia Fernanda.

As “Badanas”, e suponho que a maioria das mulheres daquela época, ou eram costureiras ou eram donas de casa!

Mas a Ana Badana também teve um filho varão, o Tio Quim!

Eu fui muito injusto, quando falei do corrupio que existia em minha casa, por não ter referido o Tio Quim.

A vida fez com que o Tio Quim fosse um bom serralheiro-mecânico e tivesse ido trabalhar para Bouças, para a fábrica das redes. E foi aí que se apaixonou pela Tia Maria. A Tia Maria era uma mulher muito delicada, pequenina, parecia uma flor.

E assim S. Mamede viu partir um cidadão de primeira água, em benefício de Bouças de Baixo!

(Em boa verdade, trocamos um mamedense por um cidadão de Bouças, embora chegado uns anos mais tarde. Refiro-me, claro está, ao Miguel Nora, que esta semana nos pregou uma partida, passando a estar do lado de lá da curva. Como diz o poeta, “A morte é a curva da estrada, Morrer é só não ser visto.”)

Enquanto a saúde o permitiu, o Tio Quim e a Tia Maria vinham todas as quintas-feiras a S. Mamede, depois de almoço, visitar-nos. Vinham também tratar da saúde do meu Tio. Já não me recordo bem, mas recordo o suficiente para saber que o tratamento era coisa simples. Era uma boa dose de conversa e um cálice de whisky, que faziam muito bem à circulação!

O meu Tio Quim morava ali, junto ao Parque Basílio Teles. Era uma casa térrea, simpática, ladeada por uma passagem até às traseiras. Aliás, todo aquele correr de casas em frente ao Parque Basílio Teles era assim.

Aquela zona de Matosinhos era muito bonita.

Eu lembro, com nostalgia, aquelas vivendas da zona de Carcavelos, onde apanhávamos o autocarro, e que foram engolidas por uma voragem capitalista desenfreada. As vivendas foram substituídas por monstros de betão, que até o sol nos roubam.

Bem, e ido de S. Mamede Infesta, o meu Tio Quim tornou-se um cidadão exemplar de Matosinhos. Tornou-se o Quelhas!

Este Quelhas deixou uma boa geração de Quelhas. De facto, quer o Vítor quer o Zé Manel são figuras de Matosinhos. Descobri, anos mais tarde, quando tive uma passagem efémera enquanto atleta de andebol do Leixões, da sua importância no maior clube da cidade de Matosinhos.

O Arturito gostava muito dos dois, mas tinha uma predileção especial pelo Zé Manel, mais próximo da sua idade.

O Arturito sempre apreciou miúdos vivaços, espertos, a quem podia ensinar algumas asneiras e muitas malandrices. O Arturito tinha que os pôr finos! Cabiam neste registo o Zé Manel e também o Zé António, filho da Assunção (aquelas broinhas doces, pela Páscoa, que, julgávamos nós, ajudávamos a fazer…).

Para o Zé Manel, o meu Pai era o “Turito”.

Tenho a memória do meu Pai contar muitas peripécias com o Zé Manel e o quanto o Zé Manel queria vir para a casa do “Turito”.

O Zé Manel sempre adorou o Turito. Até se sentar ao lado dos leixonenses ilustres, lá no alto, todos os anos nos visitava, no Natal.

E era sempre uma festa!

Será que lá onde estão, o “Turito” continua a andar com o Zé Manel às costas, no meio dos porcos?

(É engraçado, eu estou a terminar esta crónica e a pensar se sou mais Vareiro ou Badana. Eu acho que nem uma coisa, nem outra.)

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