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A mostrar mensagens de dezembro, 2020

A avó do peru

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Escrever sobre os nossos avós, depois de eles partirem, é sempre doloroso, mas acreditem que ainda é mais doloroso para mim. O sentimento de perda foi-se desvanecendo e foi crescendo um sentimento de culpa, que me perturba. Serão a escrita e a partilha a poção mágica para exorcizar esta sensação que me esmaga? No caso da “minha avó do peru”, a dor intensa foi causada pela impaciência e pela pressa com que todos os jovens vivem a sua adolescência e início da vida adulta. Não me permiti aproveitar, com o carinho que ela merecia, a sua sabedoria e a sua doçura. Era a pressa de chegar a Ofir, porque tinha pressa de vir de Ofir. Era a impaciência de não querer parar no caminho para comprar legumes nas vendedoras de estrada junto à Estela, era ralhar porque se demorava mais a arranjar quando a íamos buscar aos domingos, para almoçar em nossa casa. Pior, era não dedicar muito tempo a ouvi-la. Se eu pudesse voltar atrás… (eu tenho vivido com este remorso, apesar de saber que ela me p

A tesoura dos porcos

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A chegada do camião dos porcos era um rebuliço. Estacionado em contramão, à porta da casa do meu Avô, e logo tratavam de colocar o estrado e os taipais. O estrado tinha umas pontas metálicas, em forma de gancho, que se seguravam na carroceria. Depois, encaixavam-se os taipais, para que os porcos não caíssem ou fugissem pelas laterais. Aberta a portinhola, era vê-los a descer. Eles iam de enfiada para os currais, que ficavam à esquerda, depois da adega, por debaixo da eira. Os últimos a serem descarregados eram os cansados, que ficavam numa divisão especial, que se situava a meio do camião, num patamar mais elevado. Os porcos são uns animais muito peculiares. Se teimam, não arredam pé e não avançam. Indo o primeiro, vão todos atrás! Eu adorava ver este verdadeiro trabalho de equipa do meu Pai e dos seus empregados, debruçado na janela da sala de jantar, ou mesmo no quintal, logo à esquerda, onde estava o tanque de lavar a roupa, uma espécie de quinta da Tia Alice. Esta fase qu

O Quelhas

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O Arturito é descendente de “Vareiros”, por parte do meu Avô Artur, que já vos apresentei, e “Badanas”, por parte na minha Avó Aida, que nos deixou no ano em que eu nasci. A alcunha de “Vareiros”, segundo reza a história oral da minha família, advém de um ascendente meu, que não posso precisar se era o meu bisavô ou o meu trisavô. Este meu antepassado terá sido uma espécie de almocreve, que vendia peixe de terreola em terreola. Já a alcunha de “Badanas” é uma incógnita para mim. Agradecerei empenhadamente a algum leitor desta crónica que me consiga esclarecer.… A prole dos Badanas em S. Mamede Infesta ainda era extensa. A primeira “Badana” que me vem à cabeça é a minha bisavó, que era tratada por “Avó Bisa”, a Ana Badana. Retenho, na minha memória, as idas a casa da Tia Glória e da Ceusita para a ver.  (Tio Quim, Tia Fernanda, Tia Glória, Tia Alice, Avó Aida Avó Bisa, Avô Quelhas) A minha Tia Isabel, que durante muitos anos foi uma espécie de governanta da minha casa, também era