Para a Joana...

Os primeiros dezoito anos do resto da minha vida.



Sabes, Joana, tenho este desafio de escrever para ti nesta data importante da tua vida. É uma tarefa difícil e vai ser necessariamente curta. É sempre difícil escrever quando a emoção nos tolhe as ideias, quando queremos descrever a felicidade que é ter uma filha como tu e as palavras não saem.

A nossa história, Joana, começou muitos anos atrás, numa história de amor de dois meninos. Eu tinha dezasseis anos e a tua mãe catorze. Fomos sendo felizes à medida que a vida nos ia proporcionando felicidade. E foi assim durante muitos anos. Achava eu que era quanto bastava para ser feliz.

Estava enganado! A verdadeira felicidade desabrochou quando nasceram aqueles 4040 gramas de carne com 52 cm de comprimento! Nasceu a primeira menina da família.
Eras o encanto de todos. Não consigo esquecer-me da tua avó Pepa, da sua felicidade por finalmente ter a sua menina.

Eu sei que neste teu percurso, em algumas ocasiões fui injusto contigo, noutras não correspondi ao que tu esperavas do teu Pai. Estas coisas fazem parte da vida e a profissão de Pai é muito difícil. Mais tarde reconhecerás, porque as histórias da vida repetem-se de geração em geração. Mas tu tens bom coração e sabes que tudo o que o teu Pai fez foi por Amor e para tu cresceres enquanto pessoa.

Poderia contar as inúmeras peripécias que ocorreram durante estes anos. Como aquela, logo após o teu nascimento, após te teres de separar por algum tempo da tua mãe, e em que a enfermeira do hospital me colocou um biberão na mão para te alimentar na incubadora! Que atrapalhação!

Seria o normal nestas ocasiões. Mas como suspeito que alguém vai fazer isso por mim, vou ignorar esses episódios. Prefiro fazer-te uma inconfidência, que peço por favor que não contes a ninguém. É que, como diz o ditado (não podia faltar um ditado!), “Deus escreve direito por linhas tortas”.

Antes de sonhar ter filhos, eu costumava dizer, lá do alto do machismo que todos os homens têm, que ia ter um filho varão, portista, e o terror das mulheres! Hoje, dou graças a Deus por me ter dado duas meninas, portistas, cada qual a mais doce. É que vocês estragam-me de mimos, de carinho. Apesar de serem muito exigentes e quererem que eu trabalhe ainda mais do que o muito que eu trabalho lá em casa. E não existe filho varão que seja capaz disso!

Mas o passado é passado, e isto não se consegue mudar. Portanto, agora é a hora de falarmos do futuro, que está aí a bater à tua porta. E não consigo deixar de te dar alguns conselhos de Pai e também de alguém com alguma experiência de vida.

Primeiro que tudo, não prescindas nem te afastes dos teus amigos. Tu sabes muito bem de quem eu estou a falar. Não deixes que nada te afaste deles. Lembra-te que os amigos são para a vida inteira.

Em segundo lugar, luta por seres independente. É fundamental que as mulheres sejam independentes. E só conseguem isso se lutarem por terem educação, se lutarem pelos seus direitos. Deves seguir o teu rumo no que diz respeito ao teu futuro. Mas deves fazê-lo com rigor, esforço e competência para que possas garantir que não vais depender de ninguém. Sabes muito bem do que estou a falar.

Em terceiro lugar, não sejas indiferente aos problemas que os outros carregam, não te curves perante às injustiças que nos cercam todos os dias. Deves ser solidária e ajudar a que se viva num mundo melhor. Não te esqueças que "Quase sempre minorias criativas e dedicadas tornam o mundo melhor."

Termino com um excerto de um poema que traduz o meu estado de alma, agora que vais ganhar asas e voar:

“Agora, filho, agora cresceste e saíste dos meus braços. Terás
um dia alguém que te embale o sono como eu embalei, mas
nunca este amor que nasceu comigo e desabrochou contigo,
nunca este amor que só eu, teu pai, posso oferecer ao longo da noite.”
“Poema ao filho”, Jorge Reis-Sá

Adoro-te.

Comentários

Unknown disse…
pai poeta!

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